Em um período no qual estamos passando por diversas mudanças sociais, envolvendo o modo como agimos e pensamos através das décadas, é importante reconhecer que esses são apenas os primeiros passos de um grande e árduo caminho a ser trilhado. Ainda existem alguns detalhes que precisam ser ajustados, e o maneira como tratamos adolescentes mulheres é um deles.

Estamos em 2017 e a sociedade ainda acha necessário (e cool) desvalorizar opiniões e sentimentos de jovens mulheres. Isso já é recorrente com mulheres de maneira geral, mas fica ainda mais agressiva quando se trata de adolescentes. A explicação para a opinião destas garotas ser irrelevante se baseia exclusivamente no fato de elas serem mulheres e estarem formando sua personalidade (hipocrisia total, diga-se de passagem).

PRIMEIRA QUEBRA

Para pessoas com o mínimo de empatia e bom senso requerido para ser um humano decente, pode parecer óbvio e desnecessário vir aqui falar o quão destorcida é essa logística, mas se torna uma questão pertinente quando ainda existem termos usados comumente e que denigrem a imagem destas garotas.

Na literatura, temos o termo “chicklit”, algo como “literatura para garotas”. O uso dessa expressão é feito para delimitar um gênero literário definido por seus romances leves, com pouca elaboração no enredo e destaque total para uma relação (surpresa!) romântica. Ou seja, voltamos ao mérito de que garotas são emotivas, logo somente se interessam por romance; deus me livre gostar de ficção científica ou thrillers. E mesmo que esse seja o caso, quem é o dono da verdade para dizer que pessoas que gostam estritamente de romance são inferiores ao restante do mundo? Que lógica arrogante é essa que menospreza e desvaloriza alguém levando em conta suas preferências pessoais?

“Eu acho que os livros de literatura juvenil são maravilhosos para as adolescentes porque eles fazem você se sentir menos sozinho. Quando você é uma adolescente, você se preocupa que talvez você é a única pessoa que sente esta coisa estranha ou assustadora ou pervertida. E os livros de YA dizem: “Não. Seu coisa estranha é bastante normal, e você não é o único que está com medo'”. – Rainbow Rowell

Dito tudo isso, não precisamos nem dizer o quão importante é que essas garotas se sintam representadas no mundo literário (e no restante do mundo, mas vamos com calma). Existe um grupo de autores que escrevem YA fazendo questão de enaltecer seu público a cada obra publicada.

Em um mundo que teima em marginalizar adolescentes, esses autores trazem com suas obras a sensação de inclusão e pertencimento. Seja através de temas comuns na vida dessas garotas ou por abordar assuntos nunca antes discutidos diretamente, os autores a seguir mostram a todos os outros como adolescentes devem ser tratadas e que suas opiniões são tão válidas a ponto de seus livros serem especialmente para fazê-las enxergar isso.

FINAL

John Green

O sucesso de John Green foi o divisor de águas quando se tratou de reconhecimento da literatura juvenil. A massificação de suas obras (e a representação delas no cinema) trouxe para a comunidade YA uma atenção de proporções astronômicas muito precisado. Em sua maioria, suas histórias trazem personagen principais masculinos e o autor utiliza desse artifício para desmistificar a mulher e dar voz as suas garotas, mostrando-as como seres humanos falhos e tentando as compreender.

JOHN GREEN

Rainbow Rowell

Eu cresci lendo livros da Meg Cabot, achando tão legal que ela escrevia sobre meninas que não pertenciam ao “molde” assim como eu, mas daria tudo para ter crescido com os livros da Rainbow Rowell. Seus personagens também não se encaixam no padrão, mas a real magia dela é escrever sobre temas bastante específicos e os discute de uma maneira nunca feita na cena literária. Meu maior exemplo é o seu sucesso Fangirl, primeiro livro que aborda fanfiction de maneira tão aberta, representando um grupo de pessoas normalmente ignorado pela grande mídia. As outras obras de Rainbow trazem exemplos semelhantes, com o mesmo intuito de representatividade.

RAINBOW ROWELL

Jenny Han

Ela ficou conhecida por sua série “Para todos os garotos que já amei”, um lindo e divertido romance que tem como protagonista uma garota oriental, então a representatividade já começa por aí. Apesar de seus livros geralmente terem foco em um relacionamento romântico, ela consegue explorar diversas outras facetas que deixam suas histórias mais diversificadas e ricas. Seus livros exploram o lado inesperado de cada personagem, quebrando estereótipos e mostrando que todos nós estamos lutando contra nossas dificuldadesde maneira única.

JENNY HAN

Rupi Kaur

Poeta indiana de apenas 24 anos que ascendeu graças ao Instagram, transforma temas comuns como amor e perda em poemas que poderiam facilmente ter saído da cabeça de qualquer jovem. Ela é tão boa escrevendo e traduzindo seus sentimentos para as páginas, que seus poemas falam por toda sua geração e representam tudo aquilo que pessoas desprovidas do talento da escrita não conseguem dizer. O feminismo é a base sutil para toda a sua obra: não importa qual o tema ela aborde em seus poemas, o amor próprio sempre se mostra presente.

RUPI KAUR

Leia mais:

Publicado por cindydarosa

Passo meus dias lendo e inventando uns cenário na minha cabeça.